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quarta-feira, 2 de junho de 2010

REFERÊNCIAS DA LAGE DE JAGUARUNA/SC








Em 1982 fui passar o feriado de Páscoa no Farol de Santa Marta/SC com meu irmão e sua namorada, mais o Virgílio, que hoje é da Federação Gaúcha de Surf.
Chovia muito, e na época chegar a localidade de Santa Marta beirava o impossível, principalmente quando se tratava de possantes “chevetes e fuscas”; mas para mim, aos 14 anos nada era problema.
A ondulação entrava forte naquele feriado, mas eu, apesar dos apelos dos amigos, resolvi encarar um Cardosão com ondas grandes, munido de uma minúscula e redonda Rico 5’5 biquilhas... e lembro que bastou eu chegar no out side para entender o porque alguns surfistas usavam pranchas grandes e monoquilhas. Em poucos instantes eu já estava na beira da praia, assustado e congelado.
Então, devido a forte ondulação fomos visitar o Farol, que na época tinha acesso liberado, para saber a previsão das ondas. O responsável nos recebeu cordialmente, e nos encaminhou a “moderna sala de telégrafos” onde em contato como o Porto de Rio Grande/RS recebeu a informação de que por lá a coisa também estava complicada. Aproveitando a oportunidade fomos conhecer o funcionamento do imponente farol e ver tudo por um ângulo surpreendente. Nesta ocasião perguntei ao faroleiro por que em apenas uma das janelas havia um vidro adicional, e recebi a explicação de que se tratava de uma lente de aumento, a qual servia para indicar às embarcações sobre umas pedras situadas a dezenas de quilômetros mar a dentro. Lembro que a lente direcionava-se a sudeste, e que ele comentou que os pescadores diziam terem visto quebrar ondas gigantes lá. Era tudo novidade para mim, ondas grandes e geladas, estradas de difícil acesso, praias desertas... e aquele farol com uma enorme lâmpada e uma lente de aumento indicando perigo em alto mar me deixou pensativo sobre a possibilidade de algum dia alguém surfar lá.
Algumas décadas depois, a referida lage foi desbravada e comprovado que a mesma proporciona condições extremas de surf, sendo possível seu total aproveitamento apenas com tow-in.
Esta é a famosa Lage de Jaguaruna, referência mundial.
Surf para sempre e preserve a natureza!

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Burle que conheço

Em 1992 tive o prazer de conhecer o Carlos Burle e alguns de seus fiéis amigos, época em que fui muito bem recebidos por todos, chegando a morar dois meses com eles na mesma casa, na Praia da Macumba/RJ.

Os dias em que me dediquei a surfar e conhecer o estilo surf no limite ao qual pessoas como o Burle vivem, tornaram-se algumas das minhas maiores lições de vida.

A humildade em relação ao próximo é uma característica própria do Burle, que em momento algum, até hoje quando entro em contato com ele, deixou com que a sua supremacia sobre as ondas se estendesse do line-up para fora da água.

O Burle é uma pessoa que vive intensamente a adrenalina, mas guarda esta euforia dentro dele, como se fosse o combustível para o próximo desafio; gosta de posicionar-se no crítico, e faz isso em silêncio, como um verdadeiro mestre. Já era assim em 1992, quando ouvi atentamente depoimentos de surfistas viajados, os quais diziam que ele tinha uma atitude ímpar em todos os mares que o encontravam.

Quando Burle recebeu o título de Campeão do Primeiro Campeonato Mundial de Ondas Grandes, em 1998, achei lindo o gesto dele ao dedicar o título às futuras gerações, e também a sua filha recém nascida. E, quando veio a Porto Alegre receber o título na ocasião em que era festejado encerramento do Circuito Brasileiro de Surf no Dado Bier, me enviou um convite especial para nos encontrarmos, e novamente pude vê-lo humildemente dedicar o título às futuras gerações.

Em outras ocasiões presenciei ele utilizando suas conquistas como forma de arrecadar fundos beneficentes a entidades carentes, e tenho certeza que assim ele segue sua vida.

Hoje com orgulho digo que Burle é realmente merecedor do título de Campeão do Primeiro Circuito Mundial de Ondas Grandes, conquistado com a participação em todas as finais deste circuito, pois a sua dedicação diária ao big surf por décadas tem sido de corpo e alma, literalmente, e quem o conhece sabe o que quero dizer. Curiosamente, o título deste ano foi por ele alcançado após o nascimento de seu segundo filho, e é claro, dedicado a todos os demais que participaram na criação deste novo circuito profissional.

Respeite o próximo, preserve a natureza e surf para sempre!

André Jung

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Minha História na Plataforma de Tramandaí













Aqui segue uma parte da minha história, contada em fotos tiradas da plataforma de Tramandaí.

Apesar da primeira foto ser em preto e branco, ela é de 1988, e foi tirada quando a plataforma já havia sido ampliada e reformada no formato em "T". A bancada era muito boa nesta época, e as ondas da Malvina quebravam com muita consistência. A prancha era uma 6'2 Yahoo, grossa e nem sei como conseguia surfar com aquele toco, mas usei muito ela, inclusive no Rio de Janeiro.


A segunda foto é a mais antiga, tirada no verão de 1983, do lado norte, quando a plataforma era menor e quebrada. A prancha é uma Radical, feita pelo Ronaldo Barreto, de Natal/RN, uma 5'9 de quatro quilhas... modelo que retornei a usar desde 2000.

As outras fotos são uma seqüencia em 1992, no lado direito, num dia de inverno, no expresso malvina, vinha lá defora para a direita e abria para a esquerda na mesma seqüencia... A prancha é uma 6'6 feita pelo Jean Noel, no Rio de Janeiro, na época em que morei na casa do Carlos Burle... mas esta é outra história!



















Surfe para sempre e faça uma boa história!

André Jung

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Situação jurídica das plataformas de pesca

Entre as décadas de 70 e 80, foram construídas plataformas para atividade de pesca esportiva no litoral do Rio Grande do Sul, por particulares, em Tramandaí, Cidreira e Atlântida, tendo sido projetada pelo menos mais uma em Torres.
As três plataformas de pesca foram construídas, parte sobre a plataforma continental, que constitui bem da União, e parte sobre a praia, que constitui bem de uso comum do povo, razão pela qual acarretam lesão ao patrimônio público federal e ao interesse difuso de toda a população.
Importante se faz salientar que a construção dessas ocorreu sem qualquer autorização da União, havendo, quando muito, autorização do Ministério da Marinha, no sentido de que as obras não prejudicam a navegação.
Por entender ser justamente perto das plataformas a área mais segura para prática de surf, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, suspendeu a vigência da Lei nº 773/89, que regulava a demarcação e sinalização de áreas de banho, pesca profissional e amadora e desportos de diferentes naturezas, quando praticados na orla marítima; lei esta na qual as prefeituras municipais utilizavam-se para proibir a prática de surf próximo as plataformas de pesca.
Em 01 de fevereiro de 1991, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública dirigindo-se contra a construção das referidas plataformas de pesca. Questionou os empreendimentos que alegadamente não tinham autorização, funcionavam como clubes privados, vendendo títulos e cobrando pelo acesso de visitantes.
Atualmente a referida ação encontra-se em instância superior, onde o posicionamento é favorável ao apossamento das plataformas por parte da União, devendo até que tomada essa iniciativa, fiquem tais plataformas abertas ao livre acesso da população, mesmo sob controle e cobrança de ingresso.
Ocorrendo, efetivamente, o apossamento por parte da União, o caminho correto será a abertura de licitação, onde o concorrente melhor habilitado deverá prestar um serviço digno de um bem destinado ao uso comum do povo sobre uma propriedade que deve alcançar um fim social.
Sobre o fim social e ao uso sustentável das plataformas, em breve abordarei as soluções cabíveis.

Preserve a natureza, respeite o próximo e surf para sempre!

André Jung

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A primeira triquilha agente nunca esquece

Recebi do meu amigo Renato Staudt um e-mail que conta a história das primeiras pranchas com três quilhas do Rio Grande do Sul, e por sinal as primeiras do Brasil.
Segue parte do e-mail:
André, lembro que quando comecei a surfar em 1979, tive uma prancha monoquilha 7’2 da marca Original feita em Imbituba/SC, que comprei do meu vizinho na praia de Santa Terezinha/RS, logo depois, fiz uma prancha biquilha com o Dani, da agora Yahoo, já que na época Marc Richards vinha ganhando vários campeonatos mundiais com pranchas deste tipo. Eu tinha 15 anos, e o percurso de Novo Hamburgo a Santa Terezinha era uma aventura que durava 4 horas, sempre com os amigos Carlos Sanfelice hoje produtor do Surf Adventures, Jorge Breidenbach, recentemente falecido e Marcelo Wenrolz. Logo depois que o Carlos Sanfelice foi morar no Rio de Janeiro peguei autorização do juiz para viajar ao Rio de Janeiro com o Jorginho, e lá conheci o Lip Dilon shaper e dono da antiga Energia, recém retornado de viagem trazendo modelos das triquhilhas thrusters de Simon Anderson que já despertavam a atenção mundial em 1981. Então eu e o Sanfelise encomendamos duas triquilhas 5’8 em 1982, as quais até no Rio chamavam atenção dos surfistas locais. Voltamos ao sul com as primeiras novidades, e o Neú hoje shaper em Santa Catarina, Djalma seu irmão e o Kleiton Falkenberg hoje dono da Tri Coast, olhavam com atenção aquilo que seria o futuro do surf mundial. Meu vizinho gritava na praia... “pô, primeiro, uma quilha, depois duas, agora três”, mas dias depois peguei uma ressaca de terral com ondas de 2 metros servidos e senti toda a segurança desta inovação.

É isso aí meu amigo Staudt, belo relato da história do surf gaúcho, e parabéns por citar Raul Seixas, quando comentaste o espanto dos amigos diante da novidade dizendo... “do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Boas ondas, bons amigos!
André Jung


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Cabelo parafinado

Para obter o "visual de surfista", algumas pessoas utilizam artifícios químicos enquanto outros chegam até mesmo a passar parafina no cabelo. No entanto, poucos sabem que a origem deste visual característico vem de uma época na qual a intenção não era fazer estilo, pois isto era consequência dos praticantes deste esporte. O que acontecia era fruto das pesadas pranchas, as quais tinham que ser levadas sobre a cabeça, e assim deixavam fragmentos nos cabelos. Também tinha a questão da própria parafina, a qual mesmo na época em que as pranchas tornaram-se mais leves, eram muito mais abrasivas, muitas vezes feitas com velas ou parafina industrial, derretidas com cera de abelha ou algum tipo de óleo para pele. Com esta técnica, que também utilizava a parafina velha retirada da prancha, era comum que o produto final ficasse um creme grudento e assim fosse levado pelas mãos aos compridos cabelos tão em moda na época.
Modismos à parte, recicle materiais.

André Jung

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O primeiro pilar a gente nunca esquece

Quando comecei a surfar no início dos anos 80, a plataforma de Tramandaí já era o point preferido da galera. Quanto a isso nada mudou, mas em relação as ondas propriamente ditas as mudanças foram radicais nos anos seguintes, pois até então a plataforma era reta e bem menor, tendo ao final, na altura onde hoje estão os três pilares do lado norte, dois pilares restantes de uma parte que ruiu numa época na qual não presenciei.
Foi por volta de 1984 que começaram a ser produzidos pilares em cima da plataforma, os quais eram posteriormente levados por trilhos até o local de implantação no mar. No entanto, como o projeto era “proibido para surfistas”, só nos restava aguardar e aproveitar a lenta alteração do pico.
Mas a parte que só a mim cabe o mérito de contar é referente a colocação do primeiro pilar do lado sul, posteriomente apelidado de Malvina, quando por volta de 1985, junto aos primeiros raios de sol de uma linda manhã de um verão, presenciei solitário ao mar o nascimento de uma nova era do surf gaúcho.
Para mim o prazer de surfar a Malvina, que hoje raramente quebra em suas condições clássicas, é trazer a tona as recordações dos amigos da época, aos quais deixo aqui a minha saudosa lembrança.
Em memória aos amigos que já partiram...
Surf para sempre, respeite o próximo e proteja a natureza!


André Jung